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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Eu tomo você

         Hoje, depois de tanto tempo sem voltar na nossa praça, vi você sentado num banquinho com uma velha amiga nossa. Passei por lá sem um propósito, meu destino era pro lado oposto, afinal. E vi você. Não senti borboletas no estômago, nem embrulho nem falta de ar. Mas senti uma dor que me atravessava o peito, que me rasgava como folha de papel. Não sei ao certo se foi de saudade, de medo ou de sei lá o que mais. Você continua lindo. Com a barba por fazer, você vestia uma camiseta branca e usava jeans. Você ainda é o homem mais bonito que eu já vi. Bêbado ou sóbrio, você ainda tem as palavras certas pra me dizer. Isso é um saco. Eu queria mesmo era sair do carro e te beijar. Cheirar. Fumar. Amar. Você. Mas isso é errado, não é? Olha que bela droga de vida você me deixou. Desde aquele dia que eu sai do seu apartamento, eu senti que tínhamos rompido de verdade. Descasquei o esmalte vermelho das minhas unhas enquanto fugia pra casa. Você faz tanta falta. Parece que tem um buraco nessa casa. Suas roupas ainda estão aqui, seu perfume e a chave extra do seu apartamento com um chaveiro de um bonequinho que completa o que você usava (ou usa, eu nem sei).  Era nos dois, você lembra? Sua mãe deu pra gente de presente.
         Sabe, eu tenho umas coisas pra te falar. Nunca senti tanto medo como hoje. Quando vi a silhueta de uma mulher ao teu lado, eu me senti morta. E eu pensei que era pra ser eu. Eu não te superei, eu até tento as vezes, mas é em vão. Eu saio, trabalho, estudo, bebo, leio, escrevo. Mas sempre que eu tenho tempo pra pensar em algo que não seja trabalho ou alguma conta pra pagar, eu penso em você. Em como nós dávamos certos juntos. O quão graciosa era nossa dança e nossa cantoria desregulada em algum dos bares dessa cidade. Você faz uma saudade absurda. Você é uma saudade absurda. Você aquilo que eu sempre quis, e aquilo que eu sempre precisei, e isso é chato de se falar (e piégas), mas é a verdade.
         Quando será a nossa hora certa? Ouço Engenheiros do Hawaii e me lembro de você tocando pra mim. Eu queria encontrar a hora certa, a porta certa pra voltar pra nossa casa. Lembra do nosso plano de casar? Eu nem queria mais casar, então eu me apaixonei por você. Você é incrível, e eu tenho vontade de beijar você a cada novo sorriso que você dá. Você é a prova da criação divina. Isso não é fanatismo. Eu juro. Eu calo a boca enquanto você passa por mim. "Oi. Vamos tomar um chocolate quente?" Só se eu puder tomar você antes.

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