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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Apesar do dia nublado, elas brilharam como você

Ouça Give me love, Ed Sheeran  

          Depois das grandes tempestades sempre vêm os dias tranquilos e assustadoramente bonitos. Depois dos ventos fortes, recolhemos nossos cacos e montamos tudo outra vez. Mas foi só depois do teu sorriso que a guerra foi instaurada aqui dentro. Foi só depois que eu me peguei sorrindo lembrando de uma conversa que me dei conta das pequenas coisas que se acumulavam no meu peito. E apesar dos terremotos que você me fez sentir, eu ainda consigo ficar estranhamente feliz só por pensar nos outros que você vai me causar.
          Foi num dia nublado que eu quis tanto tocar seu cabelo e ajeitá-lo atrás da orelha. Foi ali, vendo as gotas de chuva se acumularem no seu cabelo liso-ralo-meio-claro-lindo que eu quis tanto beijar você. Tocar seus lábios só para ter certeza de que eles eram tão macios quanto eu imaginei. E foi ali, naquele dia chuvoso, que eu quis não pertencer a lugar algum, nem a qualquer pessoa que não fosse você. Logo eu, que nunca permiti que ninguém se sentisse meu dono, quis tanto que você o quisesse, o fizesse. 
          Apesar das nuvens espessas, do dia escuro, eu vi você. E reparei que seu sorriso é torto, e que você sempre joga a cabeça pra trás quando alguma coisa te chateia. E percebi que às vezes você ri mesmo sem motivo aparente. E você consegue ficar ainda mais bonito quando ri. E foi ali, com as gotas de chuva tornando nossas roupas jeans pesadas, que eu não me importei se eu pegaria uma gripe ou se minha maquiagem borraria. Eu só queria beijar você.
          Mas foi só quando eu voltei pra casa e tive vontade de te ligar pra você vir assistir meu filme preferido que me dei conta de que estava apaixonada. E fazia tanto tempo que não sentia isso. O formigamento na boca, o nó na garganta que se forma quando você diz algo bonito e que me desconcerta. A incerteza do que dizer, a sensação de parecer sempre tola diante dos teus olhos. Foi ali que eu percebi que a mulher que eu era havia sido reduzida a uma menina apaixonada. 
          Mas não tinha problema porque o menino era você. E apesar das nuvens, da neblina e da poluição eu pude ver você. E apesar de não haver estrela alguma no céu, quando eu toquei sua mão, pude jurar que todas elas brilharam para nós.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Mil estrelas e mil gotas d'água

        Ouça Thinking out loud de Ed Sheeran

          Você chegou como uma maré mansa. Lambeu a terra dos meus pés, alcançou minhas pernas e depois a cintura. Mas não fez mal. Não tive vontade de voltar correndo pra barraquinha pra me proteger do sol e da água. Não tive necessidade de secar as pernas e não me incomodei com a roupa molhada. Não me importei com a maresia e nem com o estrago que aquele dia faria com o meu cabelo. E a verdade é que você não trouxe estrago algum. Fez-me gostar mais de molhar os pés na água do mar; fez-me gostar de caminhar na areia sem ficar reclamando quando ela estava quente demais.
          Já tive homens que viraram minha cabeça; já tive outros que bagunçaram a cama e a casa toda; mas nunca, digo nunca, nunquinha, havia tido um que colocassse tudo em seu devido lugar. Que devolvesse a ordem que todos os dias anteriores haviam tirado de mim. Já chorei como um bebê faminto quando um desses que só sabia bagunçar a cama, bagunçou a cabeça e o coração também. Já entreguei tudo de mim; já recebi tudo de alguém. Mas foi só com você que a balança se equilibrou. Que não houve nada demais. Nada além do que precisei para me permitir transbordar por alguém. Houve excesso de olhares, houve excesso de gargalhada. Houve toque sincero, calmo e penetrante. E não houve um dia sequer que eu tenha voltado insatisfeita para casa. Porque você me deu tudo aquilo que poderia; pois eu tive tudo aquilo de que precisava.
          Se hoje você me dissesse que partiria amanhã, eu te deixaria na rodoviária ou no aeroporto. Te abraçaria com meus braços quentes e te faria sentir que sempre que quisesse voltar teria meus braços pra te aquecer. Se você partisse amanhã, pediria umas fotografias suas ao sol. A luz do dia faz tão bem pra você. Quando os raios solares cruzam o ar e atingem seu corpo, posso jurar que você tem a pele cintilante. O cabelo meio dourado meio castanho, os olhos claros e a boca bem delineada. Tudo em você atrai meus olhos, minhas mãos, minha boca. Se você partisse amanhã, eu ainda cantaria a nossa música com o mesmo brilho nos olhos da primeira vez.
          Se tirassem uma fotografia do meu coração no dia da sua partida, ele estaria tão bonito quanto todos os dias que você ficou aqui, deitado comigo no tapete vermelho da minha sala. Porque você não chegou pra arrumar momentaneamente e depois arrebentar todos os reparos e aprofundar minhas cicatrizes. Você ficou para curar as feridas que ainda estavam abertas. Sorrateiro, silencioso.
          Você veio como uma brisa da manhã; como um orvalho que cai ao entardecer. Você me tirou o medo da perda, me fez crer nos recomeços e me fez não tropeçar nos próprios pés tentando achar alguém que me amasse logo após de eu findar um romance, emendando sempre um no outro. Ainda quero amor, ainda quero ser amada com urgência e profundidade, ainda quero tudo que sempre quis, mas hoje sei aquilo que mereço ter. E se eu pudesse pedir algo pra uma força superior a mim, eu pediria apenas que eu merecesse ter você. Por favor, não parta amanhã.