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domingo, 4 de janeiro de 2015

Mil estrelas e mil gotas d'água

        Ouça Thinking out loud de Ed Sheeran

          Você chegou como uma maré mansa. Lambeu a terra dos meus pés, alcançou minhas pernas e depois a cintura. Mas não fez mal. Não tive vontade de voltar correndo pra barraquinha pra me proteger do sol e da água. Não tive necessidade de secar as pernas e não me incomodei com a roupa molhada. Não me importei com a maresia e nem com o estrago que aquele dia faria com o meu cabelo. E a verdade é que você não trouxe estrago algum. Fez-me gostar mais de molhar os pés na água do mar; fez-me gostar de caminhar na areia sem ficar reclamando quando ela estava quente demais.
          Já tive homens que viraram minha cabeça; já tive outros que bagunçaram a cama e a casa toda; mas nunca, digo nunca, nunquinha, havia tido um que colocassse tudo em seu devido lugar. Que devolvesse a ordem que todos os dias anteriores haviam tirado de mim. Já chorei como um bebê faminto quando um desses que só sabia bagunçar a cama, bagunçou a cabeça e o coração também. Já entreguei tudo de mim; já recebi tudo de alguém. Mas foi só com você que a balança se equilibrou. Que não houve nada demais. Nada além do que precisei para me permitir transbordar por alguém. Houve excesso de olhares, houve excesso de gargalhada. Houve toque sincero, calmo e penetrante. E não houve um dia sequer que eu tenha voltado insatisfeita para casa. Porque você me deu tudo aquilo que poderia; pois eu tive tudo aquilo de que precisava.
          Se hoje você me dissesse que partiria amanhã, eu te deixaria na rodoviária ou no aeroporto. Te abraçaria com meus braços quentes e te faria sentir que sempre que quisesse voltar teria meus braços pra te aquecer. Se você partisse amanhã, pediria umas fotografias suas ao sol. A luz do dia faz tão bem pra você. Quando os raios solares cruzam o ar e atingem seu corpo, posso jurar que você tem a pele cintilante. O cabelo meio dourado meio castanho, os olhos claros e a boca bem delineada. Tudo em você atrai meus olhos, minhas mãos, minha boca. Se você partisse amanhã, eu ainda cantaria a nossa música com o mesmo brilho nos olhos da primeira vez.
          Se tirassem uma fotografia do meu coração no dia da sua partida, ele estaria tão bonito quanto todos os dias que você ficou aqui, deitado comigo no tapete vermelho da minha sala. Porque você não chegou pra arrumar momentaneamente e depois arrebentar todos os reparos e aprofundar minhas cicatrizes. Você ficou para curar as feridas que ainda estavam abertas. Sorrateiro, silencioso.
          Você veio como uma brisa da manhã; como um orvalho que cai ao entardecer. Você me tirou o medo da perda, me fez crer nos recomeços e me fez não tropeçar nos próprios pés tentando achar alguém que me amasse logo após de eu findar um romance, emendando sempre um no outro. Ainda quero amor, ainda quero ser amada com urgência e profundidade, ainda quero tudo que sempre quis, mas hoje sei aquilo que mereço ter. E se eu pudesse pedir algo pra uma força superior a mim, eu pediria apenas que eu merecesse ter você. Por favor, não parta amanhã. 

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