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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Comfortable

Ouça Comfortable - John Mayer

          Dentre todas as palavras que eu já lhe disse, e todas aquelas que estão passando na minha cabeça agora, enquanto encaro uma foto sua, não há uma sequer que traduza o quanto eu sinto sua falta. Sentir falta da tua presença por completo. Do teu corpo, cheiro, risada e, principalmente, do teu amor. Sentir falta de ser mais contigo, e por ti. Sentir falta do teu carinho que sempre recuperava minhas forças, mesmo quando eu tinha dias infernais. Mesmo quando você só me ligava pra dizer que tava com saudade. Mesmo quando você só escrevia alguma coisa e me envia por mensagem. Eu sorria sempre e pensava que eu tinha a melhor mulher do mundo. Eu tinha.
          Não sei quanto tempo faz desde que eu desisti de nós. Não sei a quantas festas eu fui e nem quantas mulheres eu beijei. Posso arriscar dizer que muitas delas eram lindas, mas tenho certeza que nenhuma delas me beijou como você. Nem uma delas tinha o cheiro doce do teu pescoço ou tinha o cabelo mais bonito que o teu. Dentre todas as mulheres que tive sobre a minha cama, sei que só pra você eu emprestaria aquela minha camisa favorita. Só pra ver você dormir mais a vontade do meu lado. Sei que só seria você a conhecer a minha mãe e a ser apresentada para a minha avó.
          E todos os sonhos que sonhamos juntos; e todos os beijos que calaram teus gemidos; e todas as noites que você dormiu aninhada nos meus braços. Eu perdi tudo isso. Vou ao mercado sozinho e encho a geladeira de comida congelada e cervejas. Se você estivesse aqui diria que não queria namorar em cara com barriga de cerveja com o colesterol elevado. Diria melhor. Diria que não queria esse exemplo de vida nada saudável para os seus filhos. Marina e Bernardo deveriam ter seus olhos e seu sorriso. E seu gosto por literatura e sua desenvoltura na pista de dança. E a Marina deveria cheirar tão bem quanto você e o Bernardo deveria se apaixonar por uma mulher como você. Daquelas que fazem a gente querer virar príncipe só pra combinar melhor com a dama que ela é.
          Nosso amor era confortável e à vontade. Você era o centro do mundo e eu rodaria todo ele se precisasse para alcançar você. Não existe nenhuma mulher deitada na minha cama hoje. Não há nenhuma garrafa de cerveja aberta. A geladeira está cheia de frutas e de comida de verdade. Enchi o armário de barrinhas de cereal e de coisas de gente saudável. Eu me enchi de esperanças de que hoje você voltasse. Por que eu já contei os meses que você se foi e foram muitos. E eu perdi a conta nos dedos das mãos e comecei a contar com os dedos do pé. E nenhum deles conseguiu me fazer entender por que você ainda não voltou.
          Existe outra garota, ela tenta se parecer com você. Um dia eu a vi sentada encarando uma das tantas fotografias nossas sentada na sua poltrona de leitura. Ela usa o mesmo corte de cabelo e descobriu o nome do seu perfume. E ela tenta ficar tão bonita quanto você usando uma lingerie vermelha, mas ela não consegue. Ela não sorri como você. Não morde os lábios como você fazia quando estava nervosa. Ela não faz a sua cara de dor quando estava com cólica. Mas ela tenta. Ela tenta tanto que eu tenho pena. Por que num dia desses, depois de umas dúzias de garrafas de cerveja abertas, eu deixei escapar que eu amava você. E ela vem tentando, não ser como você, mas me fazer amá-la como eu a amo. Querê-la como eu a quero. Mas não existe nada seu que ela faça tão bem quanto você fazia.
          É provável que você já tenha encontrado outro cara que te dê exatamente aquilo que você me cobrou naqueles últimos meses. Estabilidade. Segurança. Presença. Você falava que a gente devia fazer nossos planos darem certo, mas eu só queria adiar tudo, colocar tudo pra debaixo do tapete pra limpar depois. Você dizia que um dia você iria encontrar um jeito de me riscar da sua vida, mas eu sempre achava que isso era papo de TPM e ignorava os sinais que você me dava. Só hoje consigo entender por que você não voltou pra nossa casa depois do feriado de 7 de setembro. Você foi pra casa da sua mãe e me ligou depois de ter chorado no colo dela. A sua voz estava meio baixa e, naquele dia, eu imaginei que fosse sono. Mas não era. A gente só consegue ver com clareza o que tem quando percebe que não o possui mais. Você não era mais palpável. Não tinha cheiro. Não tinha tato. Só tinha eu no meu buraco sem fundo tentando alcançar a borda pra poder me prender a você.
          Quando eu lembro dela tentando ser como você é que me dou conta de que já faz mais tempo do que eu imaginei. Seu número mudou. Você se formou. Seus pais mudaram de casa e seu irmão casou. A verdade é que eu sei que não adianta encher a geladeira de frutas e a despensa de barrinhas de cereal -50 quilo calorias, você não vai voltar. Não vai tocar a campainha ou se aproveitar da chave extra. E quando eu olho pra cama arrumada e para as fotos espalhadas sobre ela tenho mais uma constatação: a vida ficou uma merda desde que você se foi.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Você nunca estará em uma agenda

*Ouça Heart Like Yours de Willamette Stone

          Rubem Alves certa vez escreveu que "aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece". Porque aquilo que amamos se eterniza. E olha pra mim, olha agora. Tô te citando Rubem Alves e eu não preciso de agendas para te lembrar. Tô te dizendo que mesmo com tudo de errado que a gente fez, foi amor. Puro, intenso, animal. Mesmo que a gente tenha caído nessa roda viva do dia a dia, mesmo que tenhamos ferido um ao outro, mesmo que tenhamos guardado os presentes que trocamos numa tentativa - frustrada - de arrancar o outro de si, eu sei que foi amor pra você também.

          Eu sei que você um dia desejou que tivesse sido diferente. Que tivesse dado certo, eu sei. Sei que tu sentiste saudade do cheiro do meu cabelo, mesmo que tu nunca tenhas me ligado pra contar. Sei que um dia você se perguntou qual foi a merda que a gente fez pra deixar nosso relacionamento chegar a esse ponto. Sei que um dia você me odiou por eu tê-lo amado e mesmo assim não ter sido capaz de lutar o suficiente. Eu também te odiei. Odiei o dia que você disse que ia embora e que não era pra eu ir atrás de você. Nós já estávamos perdidos, eu sei. E eu poderia ter ido atrás de você. Poderia ter argumentado com você, ter te feito brigadeiro e aí nós iríamos comer sentados no chão da sala de estar. Mas eu tive que te odiar pra saber o quanto amava você.

          E eu não quero te esquecer. Mesmo que pudesse fazê-lo. Há um lugar na minha vida que sempre será seu. Mesmo que você nunca volte a tocar a minha campainha. Mesmo que eu me mude no ano que vem, e você se torne doutor-fulano-de-tal. Mesmo que a gente nunca se encontre num desses cafés da vida pra conversar amenidades. Mesmo que você nunca mais tome café numa terça-feira de manhã. Mesmo que eu me apaixone de novo e tire da órbita do meu pensamento o gosto e a maciez que teus lábios têm. Mesmo não havendo pra sempre. Mesmo que você me esqueça, eu não vou me esquecer de você. E acho que é aí que mora meu amor. Quieto e sereno, ele sempre vai estar aqui, guardado em um canto morno dentro de mim.

          Mesmo que um dia você passe por mim e não reconheça o meu perfume, eu ainda vou saber quem é você. Talvez você não saiba, ou não se importe, mas eu espero que você seja feliz. Porque, num determinado momento da vida, você enxerga que o importa é aquilo que foi cultivado na sua vida. E que as pessoas sempre partem, mudam de rumo, e cabe a você, que as ama, deixá-las seguir em frente. E você me cultivou flores. Lindas. E elas são tudo aquilo que eu ainda quero de você. Porque apesar de eu nunca querer te esquecer, isso não significa que eu queira lembrar de você.

Eu juro que telefonaria

*Ouça Can't take my eyes off you de Lady Antebellum

          Hoje, depois de tanto tempo, olhei fotos nossas e senti o peito arder em demasia. Num primeiro momento eu achei que fosse saudade, depois me ocorreu que fosse rancor, mas, agora sei que o que dói é o vazio. A ausência. Da esperança, do abraço, das certezas, dos sonhos palpáveis, das manias meigas e um tanto esquisitas, dos teus olhos miúdos. E juro por Deus que sentir algo ainda me dói mais que tua ausência.

          O espaço vazio na cama eu preencho, já no coração, não. E tu fazes falta. E a minha vida é um quebra-cabeças com milhares de peças perdidas sem você. E eu preferia mil vezes quando eu não sentia nada. Hoje eu sinto tudo. Eu sinto muito. Sinto tanto. Sinto por nós dois. Amar sozinha é uma sina, quase um dom.

          Mantenho-me longe e estou tão perto de ti. E tu não me vês. Eu nunca fui embora, e eu sempre esperei que você me enxergasse. Hoje eu ando só, faço da minha solidão inquietamente silenciosa a minha maior companhia. Leio meus livros e escrevo quando me dou conta de que minhas lágrimas transformaram-se em palavras com o passar do tempo. Palavras doídas, adagas, sôfregas. Não choro, não. Não sinto escorrer em minha pele alva nem uma gotícula de sal.

          Mas eu choro por dentro. No caminho da faculdade ou da casa dos meus pais. Choro quando leio um livro e penso que, acaso você estivesse aqui, eu dividiria minha frase preferida com você e você sorriria debilmente para mim e me chamaria de melosa. Quando vou a padaria eu compro pão francês, pão de queijo e pudim de leite. Com muita calda - como você gosta. E você sabe que eu não gosto de pudim, mas eu compro pois era minha rotina te oferecer doce quase todos os dias.

          Não sei, enquanto te escrevo no bloco de notas o rádio toca Can't take my eyes of you, e, pela primeira vez em anos, sinto meu peito explodir numa overdose de adrenalina e saudade sua. E eu te telefonaria se não fosse tão tarde e se eu não soubesse que você odeia ser acordado na madrugada.

sábado, 31 de maio de 2014

O amor que (ainda) não morreu


*Ouça All we'd ever need - Lady Antebellum

           Hoje, mais uma vez, a cidade adormeceu com uma chuva vezes miúda, vezes graúda. Hoje eu estive durante horas sentada no sofá da sala pensando nas voltas que a minha vida deu. Faz quantos anos desde que eu mudei de país? Uns cinco, seis? Talvez até mais. Eu até sei a data, pois lembro bem da minha despedida no aeroporto, mas prefiro não usar datas precisas. Datas exatas machucam muito mais que datas hipotéticas. Datas de términos, de despedidas, do dia da demissão, da nota baixa na prova de cálculo. Tudo isso perfura mais a carne que um dia que você nem lembra bem. Foi em janeiro? Ah, nem sei. Pode ser que tenha sido em maio. Sei lá quanto tempo faz desde que eu decidi fugir dos meus fantasmas. E falando em fantasmas, essa noite eu sonhei com você. Foi um sonho ruim, e eu acordei com a ânsia de pegar o celular e te ligar só pra saber se você estava bem. Não liguei, é óbvio. Mas passei o dia com a sensação de que tinha esquecido algo.

          Pus Lifehouse pra tocar e fui atingida por uma maré brava de lembranças suas. Não é sempre que eu penso tanto em você, mas quando penso, penso muito. E isso é sempre muito ruim. Senti um perfume parecido com aquele que você usava. Tinha Mediterrâneo no nome, não é? Eu lembrei. Fui num pub desses que eu só entro pra comprar uma dose de whisky pra fingir que eu bebo. Num pub desses eu quase me apaixonei por um cara que tinha a barba igual a sua. Deu saudade de sentir teus pelos roçarem meu pescoço desnudo, mas aí acho que eu engasguei com a droga do whisky e acabei perdendo o foco.

          All we'd ever need toca enquanto eu componho mais uma carta que você nunca irá receber. Não por eu não ter coragem de enviar, mas por ter certeza que você não merece as palavras que eu te escrevo enquanto desmancho a maquiagem cara que eu uso. Descasco o esmalte vermelho das unhas enquanto penso em até quando vou continuar te escrevendo. Tomo um gole de café e me permito pensar, especificamente, no teu rosto. Olhos médios, de um castanho escurecido. Barba mal feita, com um sinal próximo ao olho esquerdo. Boca rosada e nariz proporcional. Cabelo preto, sempre bagunçado e sempre cheiroso. Te descrevendo assim até parece que você parece com qualquer pessoa, mas só eu sei o quanto tua beleza é rara e gostosa de ser conhecida, desfrutada. Só eu sei o gosto que tua boca tem enquanto te mimo ou arranho tuas costas nuas. Só eu te senti de verdade, me desculpe a pretensão. No fundo você sabe que é verdade.

          A madrugada chega enquanto eu encaro a única foto sua que eu trouxe comigo. Até por descuido. Ela estava dentro de um livro que eu trouxe pra ler enquanto não fazia novos amigos na cidade nova. Nem sei qual o peso que isso tem, miligramas, talvez. Mas nas minhas mãos ela pesa toneladas. Esmagam minhas mãos pequenas e pouco calejadas. Valores e pesos absolutos às vezes não valem de nada. Enquanto miligramas pesarem mais que toda a minha mobília, eu continuarei aqui, sentada a essa mesinha, te escrevendo. Talvez um dia esta fotografia fique tão leve que até mesmo o vento possa dar conta dela, talvez. Talvez um dia ela voe janela a fora e você conheça um pouco da minha nova cidade. Mas enquanto ela pesa toneladas, tudo o que eu posso fazer é guardá-la dentro do livro onde eu a encontrei. Talvez um dia eu te devolva, quem sabe, não é? Quem sabe...

sábado, 17 de maio de 2014

Tempestade

         
*Ouça Storm, Lifehouse 

          Um engarrafamento insuportável parou a cidade inteira. A chuva piorou tudo. Sentei em um banco do lado da janela no ônibus e permaneci ali por mais de duas horas e meia. Fez frio e eu deixei o casaco em casa. Vi a chuva cair, arrastando terra e pedra, embaçando os vidros dos carros, e eu continuava ali, implorando mentalmente pra ela te lavar de mim. Vi a chuva escorrer pelo lado de fora da janela. Escrevi seu nome ali, naquele embaçado. Os pingos escorriam pelo vidro e parecia que o céu estava chorando comigo por você. Seu nome continuava ali, me encarando, enquanto eu chovia por você e o céu chorava por mim.
          Enquanto arrumava o apartamento, encontrei uma carta que você me escreveu bem no início. Sua letra meio torta e desengonçada me dizia o quanto você me amava. Achei uma caixa cheia de lembranças nossas. Achei também as fotos que eu iria usar pra te fazer uma surpresa. Achei até uma carta que eu escrevi e esqueci de te entregar. A chuva continua caindo, lavando as ruas da cidade e eu continuo aqui, me perguntando quando é que Deus vai te lavar de mim.
          Você ficou feito tatuagem. Feito marca de queimadura. De queda de bicicleta. Você ficou feito cicatriz. Ficou pra lembrar como dói gostar tanto assim de alguém. E que marcas ficam para sempre (dependendo exclusivamente do quanto dure o seu para sempre), mas o amor não. O amor se esvai. E cada carro que ultrapassa o meu ônibus me faz pensar em quão efêmeras as coisas são. E cada carro leva um traço da lembrança mais bonita que tenho de nós dois. Seu rosto perde cor, brilho e luz. Perde forma e nitidez. O vidro continua embaçado. E eu continuo sem saber o que fazer com as fotos e as cartas.
          Olho seu nome escrito no vidro embaçado e choro. Choro o que não chorei quando você decidiu partir sem mim. Viagem sem volta, você me avisou. Chorei ali, no meio de gente que eu nunca havia visto na vida, tremendo de frio e cansaço da tua ausência. Chorei baixinho por saber que sem mim cê vive bem. Até que ponto nós nos pertencíamos? Até que ponto éramos "nós"? O céu chora comigo esta noite. "Eu te amo, mas isso não é o suficiente." O amor nunca é o suficiente.
          Amor é elo, não corda. Não é o que te prende, é o que te faz ir sabendo que pode esticar ou forçar, não vai arrebentar. Amor é elástico. Amor é escolher ficar. É ter certeza que lá fora há outras bocas e outros gostos, e preferir estar aqui. Dentro do "nós". Amor não é o que te confunde, é o que te dá certezas. É ter porto para atracar a qualquer momento. É ter abrigo nos dias de tempestade, e companhia nos dias quentes. Amor é o que cola, restaura e cura. O que foi, não é amor. O agora é amor. O futuro pode ser amor. Mas não, o amor não é o suficiente. Não sempre. O amor é o suficiente para você?

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Alguns milhares de segundos

Ouça I won't give up, Jason Mraz 

          Fiz as contas e foram 4872 as horas que passei ao teu lado. Não sei ao certo quantos foram os momentos que ri, e quantos foram os que chorei. Minha memória recorda ao menos duas vezes por dia a doçura do teu sorriso, e eu derreto em sal às vezes. Dentre todas as coisas que vivi nos últimos anos, estou certa que tu foste uma das mais bonitas. Não posso e não vou comparar esse amor com nada que vivi antes. Eu sempre falei de vazios e pesos, mas você preencheu todos as lacunas da minha vida e seria cruel não dar-te mérito por isso. Os pesos, bem, ele tornaram-se mais leves (ou teria eu aprendido a lidar com eles?).
          Foram 292.320 os minutos que pude te ter para mim. E nesse pequeno infinito de minutos eu te dei todo o amor que havia em mim. Sequei até a última gota do poço de afeto que construí enquanto esperava alguém que merecesse tomar do meu amor. Feri-me um durante todos esses minutos mas não foi nada incurável. Li em algum lugar que amar é atirar-se de um precipício e esperar que alguém impeça nossa iminente queda. Talvez essa tenha sido a definição mais dolorosa e fidedígna que o amor recebeu. Pois eu e tu sabemos que eu estava à beira de um precipício quando descobri que amava você.
          Durante esses dias, horas e minutos que estive sobrevivendo à beira do meu abismo particular, acabei aprendendo a cuidar dos meus ferimentos e a esconder as cicatrizes dos amores inacabados que vivi. Comi, respirei, gorfei, dormi, dei, chovi, bebi, gozei, dividi, gemi amor durante 17.539.200 segundos. Fui mais por ti, para ti e contigo. Adormeci em teu abraço e me encharquei no leu afeto. Afoguei-me na água que escorreu entre nós naquela noite de janeiro. Não sei quando foi que eu saí da nossa estrada e capotei no acostamento. Não sei o que te aconteceu depois que eu saquei pelo para-brisa. Se vocês se machucou muito ou pouco eu não sei. Apenas espero que você tenha aprendido a cuidar de feridas como eu tanto quis te ensinar.
          Talvez um dia você olhe para o lado esquerdo da tua cama e sinta falta de alguém. Talvez, numa noite qualquer, você sinta a necessidade de um cafuné e não tenha ninguém para fazê-lo. Talvez um dia você pegue uma gripe chata e sinta falta de alguém para cuidar de ti. Talvez um dia você sinta um aperto no peito, e sinta um arrepio frio tomar-lhe conta do corpo e você procure alguém para lhe acalmar de uma crise de ansiedade, e não haverá ninguém. Quando você sentir isso, saiba que sou eu deixando você. Apesar dos milhões de segundos que passei ao teu lado terem sido lindos, eles serão apenas lidos por você através dessa carta a partir de hoje. Reforce os muros do seu coração e fique bem.
                   
                                                                                                                            Adeus,
                                                                                                                            Capitu.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Capitu é espinho - E a culpa é sua

         
          Começo mais uma carta a ti dedicada dizendo que a falta do teu amor secou as flores que eu plantei, reguei e esperei por tanto tempo. Hoje eu sentei na varanda de casa e olhei pra imensidão azul do céu. Enquanto encarava as nuvens, lembrei de como gostava de ficar deitada do teu lado sem falar nada. Só ouvindo tua respiração e sentindo o calor dos teus braços no meu corpo. Escuto uma música calma mas algo grita dentro de mim. Preciso mais uma vez te escrever, me perdoe pelo incomodo. 
          Dentre todas as coisas que já foram ditas e sentidas, depois de todas as minhas cartas de despedida e de todo choro em vão derramado, eu só vim mais uma vez dizer que ainda admiro a beleza da tua alma. Calada, num canto qualquer de uma sala escura, eu ainda lembro da falta que tu fazes e de como dói amar-te de longe. Hoje, durante uma conversa com um amigo, ouvi uma frase que fez minha alma doer. "Capitu confunde não querer com não mais sentir, não merecer com não mais amar." Capitu sou eu, e quem não merece é você. Se eu fosse dizer os motivos pelos quais me apaixonei por você, talvez cometesse o erro de esquecer algum. Mas, meu amor, eu sei bem quais os motivos que te fazem não merecer o meu amor.  
          Vivo o dilema de lidar com esse amor todos os dias. De acordar atrasada e mesmo assim pensar em você, mesmo que seja só por alguns segundos. Não posso te escrever sobre como meu coração está despedaçado desde que você se foi. De fato despedaçado ele não está, mas garanto que a dor de senti-lo bater enquanto o seu bate longe de mim é sufocante. Talvez você tenha sido a melhor coisa que me aconteceu nesses dois anos turbulentos da minha vida. Mas talvez você tenha sido a causa da minha maior dor: a de perder a fé no amor. 
          O relógio prata da minha sala de estar marca 23h48 minutos, hoje, dia 13 de abril, foi mais um dia de saudade. E todo esse blá blá blá de amor e coração pseudo-ferido é clichê. Mas olha, eu andei pensando na melhor forma de te pedir pra ir embora. Pois não posso lidar com a dor de um amor unilateral, que só me suga e nada me dá. Mas aí eu lembrei de um outro trecho da minha conversa de hoje. Eu não te deixo ir, pois o pouco que tenho de você em memórias doces é o suficiente pro meu amor ainda se manter vivo. Guardado em algum canto de mim, ele continua sobrevivendo as minhas custas, e eu acabo mandando todo mundo que chega ir embora, pois o que há de você em mim ainda é melhor que tudo que há lá fora. 
          Os amores incompletos que vivi, inclusive o teu, me transformaram em alguém que eu jamais imaginei ser. Tenho espinhos por toda a extensão da minha pele, e eu ando ferindo qualquer inocente que tenta se aproximar. Eu sou batalha longe de você. Sou guerra declarada, e causa perdida. Sem teus olhos calmos eu não sou fera, nem bela, nem nada. Mas em canto qualquer daquela sala escura eu me recomponho. E continuo, mesmo sem você. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Barba


          Hoje eu senti saudade de você. Assim, como quem sente um arrepio despretensioso na pele, daqueles que vem durante uma noite em que a temperatura caiu um pouco, sabe? Foi assim. Sentei numa cadeira do lado direito do ônibus, como de costume, ao lado da janela (eu adoro sentir o vento no rosto, você lembra disso?) e pus os fones de ouvido. Uns dois pontos depois subiu um moço que me lembrou você. Ele tinha a barba por fazer, meio torta e desregulada, assim como era - é, na verdade - a tua. 
          Você detestava quando eu falava que tua barba não era completa, e eu sempre ria da cara de marra que você fazia. Daí, por ironia do destino, ele sentou ao meu lado. E foi impossível não inspirar o cheiro gostoso que sua pele emanava. Ele era branco, tinha os dentes bonitos e os lábios dele tinham um contorno mais bonito que qualquer nuvem desenhada pelos dedos de Deus. Ele me lembrou você por que o sorriso dele se encontrou com o meu, como quando acontecia conosco durante a aula de matemática. E foi aí que eu senti saudade. Muita saudade.
          Deu saudade de poder brincar de morder teus dedos e teus lábios. Deu saudade de brigar com você por conta dos seus péssimos hábitos alimentares. Deu saudade de te fazer uma visita e ficar encostada no teu ombro até tarde da noite. Deu saudade de sentar no sofá da sala e esperar você chegar aqui com teu melhor perfume - o mesmo que eu senti no moço do ônibus. Deu saudade de ser tua, assim, de me sentir tua. Não sei se isso tem cura - essa saudade que bate repentinamente -, mas eu espero que não dure a noite inteira. Durante os cinquenta e cinco minutos que eu passei do lado daquele moço, de quem eu não sei o nome nem a idade, eu senti falta de tudo que eu sonhei ao teu lado. De cada pedacinho dos nossos dias juntos. Daí eu resolvi escrever pois eu não poderia deixar de contar e eternizar o dia em que eu achei alguém tão bonito (ou pelo menos quase) quanto você. 
          Eu sinto falta da tua barba. Dos pelos que crescem desordenados. Das cócegas que eles juntos faziam no meu pescoço desnudo. Do cheiro de homem com corpo de menino que você tem. Sinto falta dos beijos calmos, dos ferozes e dos urgentes. Dos desejos maiores que eles despertavam. Sinto falta da tua barba por fazer, apesar de amar quando você ficava sem barba e eu beijava teu rosto liso e macio. Mas sinto mais falta da tua barba; dos dias que não a vejo; dos dias (que ainda nem chegaram e já me doem) que eu continuarei sem vê-la. É, não é fácil sentir falta da tua barba, menino.
          O moço desceu no mesmo ponto que o meu, mas eu atravessei a rua e ele foi pro sul. Seu cheiro (o teu e o dele) se dispersou com o vento e a sua barba se perdeu entre as pessoas que eu deixei pra trás. Poderia terminar dizendo que eu sinto saudade de você, e que, de vez em quando, quase sufoco com essa saudade, mas não vou não. Termino, ao som de Paulinho Moska, dizendo que eu pensei em te esquecer e esquecer da tua barba bonita, mas só de pensar em esquecer eu já lembro muito e isso dói. Prefiro não pensar mais. Vai que um dia eu encontro o moço da barba bonita e do cheiro gostoso e ele senta ao meu lado de novo? Vou tentar não pensar (e torcer). Sinto falta da tua barba, moço. 

domingo, 30 de março de 2014

Será que você pode ir embora?

       
          Pus uns discos antigos pra tocar por que hoje eu decidi escrever sobre saudade. Sabe, faz um tempo que eu andei pensando na minha vida. Assim, no singular. Pensei em como eu mudei de uns dois anos pra cá. Meu cabelo ainda parece o mesmo, mas pra mim ele está completamente diferente. Eu que não tinha o hábito de usar batom passei a usar quase todos os dias. Meu perfume também mudou. Em três semanas, me dei conta de como eu sentia falta de mim. E não percebia. Quando passei a ter tempo só pra mim, me dei conta que deixei de me cuidar e de cultivar as flores do meu próprio jardim.
          O tempo voa diante dos nossos olhos e nem percebemos. Levantamos todos os dias pensando nas coisas que nós temos que fazer durante o dia, e já ficamos exaustos antes mesmo de colocar o pé na rua. Então, nesses dias meus, eu percebi que eu mudei demais e eu acho que isso é bom. Sei lá, né? Vai que é ruim? Sei não. Mas mesmo com essas dúvidas sobre se eu mudei pra melhor ou pior, eu vim mesmo foi pedir desculpas pra alguém que eu conheci esses dias.
          Num dia qualquer, quando você nem tá preparada pra conhecer alguém legal, um alguém legal chega e te dá um bom dia tão gostoso que seu dia fica bom mesmo. Numa hora qualquer você tá mexendo na sua bolsa, procurando alguma coisa que você tem certeza que esqueceu em casa, em outra, alguém tá perguntando se você curte Jason Mraz e te chamando de moça bonita. Assim, meio casual. Simples. Lembra que o tempo voa? Pois é. Você acaba conversando com alguém horas a fio e nem percebe. Você se encantou pelo sorriso dele. Ele se encantou pela mulher que você é. Aí tudo complica.
          Naquele dia que você veio me deixar aqui na porta de casa, e a gente se abraçou desajeitadamente e eu não sabia se te beijava ou te só te dava boa noite, eu percebi que não sei o que nós somos. Eu disse que a gente não poderia ser nada, você lembra? Você disse que seríamos o que eu quisesse, até mesmo nada, mas era pra eu continuar sorrindo pra você. As coisas são bonitas quando você tá por perto, mas eu não posso gostar da visão que você me mostra. Mas me dá um medo absurdo de sentir demais outra vez. Medo de deixar de ser atração e virar amor. Pode não, moço. Não tenho força pra isso. Eu te falei isso também, e eu ouvi você dizer que seria forte por nós dois. Diz isso não, moço. Permito não.
          Uma noite dessas eu chorei. Chorei por saber que eu não sou (agora) nem metade do que você merece. E você é bem mais do que eu mereço. E eu não permitiria que você vivesse um amor unilateral, por que moço, eu sei como dói. Chorei também por que o medo de amar outra vez domina meu peito. Por que o que eu conheço do amor é a parte mais doída. Vai ver eu ainda não sei amar, moço. 'Cê entende isso? Eu chorei por que eu te gosto mais a cada segundo, são frações pequenas de gostar mas que no final somam muito gostar e eu não quero gostar demais de você. Por favor, me desculpa.
          Sinto muito pelos que passaram por mim antes de você e deixaram tudo aqui uma bagunça. Eu ainda nem arrumei tudo, e aí você chegou me oferecendo ajuda. Eu limpo aqui, pode deixar. 'Cê disse assim. Enquanto eu tento esvaziar meu corpo das toxinas dos outros amores incompletos que eu vivi, você diz que vai ficar e vai esperar até eu ter condições de me preencher outra vez. Teu sorriso é tão bonito, e teu cheiro é tão acolhedor que eu fico sem graça de dizer que tô cansada demais e que não vai dar pra gente jantar juntos hoje. Mas é que não vai dar mesmo, ando sem fome. Desculpa, moço.
          Tenho medo de ser o certo na hora errada. Você disse um dia desses que eu sou, provavelmente, a mulher mais corajosa e confiante que você já conheceu. Tô com medo de te amar; tô te pedindo pra ir embora enquanto dá tempo de não gostar de você. Não fala essas coisas que destroem meu coração, que transformam-no em purpurina. Tô te pedindo pra conhecer alguém melhor que eu, que possa te dar o amor que eu não posso. Tô te desejando tanto mas eu não vou admitir isso até que você esteja a uns bons quilômetros de mim. Se cuida, viu? Vou sentir falta do teu beijo na testa, mas eu desejo que alguém lhe beije a boca com todo o amor que você merece. Não me odeie, moço. Eu te peço. Quem sabe um dia a gente se encontra, mais maduros e livres?Quem sabe... Fica bem, moço. Fica bem. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Até qualquer dia

*Leia ao som de Cícero - Pelo interfone           
          
          Demorei alguns vários dias pensando em como eu começaria essa carta. Rabisquei algumas coisas enquanto estudava química mas me pareciam agressivas demais. Escrevi outras enquanto estudei português mas elas não me agradaram. Tu me conheces bem, e sabes da mania compulsiva de achar que tudo que eu faço é torto, feio ou pouco. Mas sabes também que eu sempre gostei de dedicar a ti as palavras mais bonitas e as frases mais harmônicas. Hoje eu (acho) estou pronta para te escrever.
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          Quando eu encontrei você, e você sorriu pra mim e me abraçou de um jeito gostoso e perfumado, lá por volta de junho, eu já sabia que iria me apaixonar por você. Não pela sua inegável beleza, nem pela sua inteligência, mas por eu ser eu. Por saber que teu sorriso bonito ia acabar envolvendo meu coração e me tirando pra dançar uma valsa agitada. Por saber que o cheiro que tu deixastes em mim naquele sábado se tornaria a minha melhor companhia. Por saber que você consertaria as partes da minha vida que estavam quebradas, despedaçadas e acharia - ou construiria - aquelas que tinham sido perdidas. Por saber que meu coração era novo e fraco demais pra suportar a intensidade do teu olhar. Eu poderia ter pulado do barco quando percebi essas coisas, mas eu achei que valeria a pena.
          Eu não fugi quando pude, e não posso mais fugir agora.
          Eu tenho certeza que não fugiria, pois o que vivi nesses meses foi o que me fez retomar a vida. Você encheu meu coração de alegria, e eu não tenho como deixar de agradecer-te por isso. As coisas mudaram muito desde que você chegou. Mudaram tanto que chego algumas vezes a desconhecer quem eu era antes de você. Teu amor me moldou. Ou melhor, meu amor por ti me moldou. 
          Desculpa, amor, eu acabei me perdendo enquanto lembrava de você. 
          Eu tinha certeza que era você, sabe? Que seria você. Sempre. Eu até me permiti sonhar, fazer planos pra uma vida a dois. Eu não tenho certeza de quando foi que a gente se perdeu. Não sei se foi eu que te perdi, ou você quem perdeu a mim. É difícil enxergar com clareza agora, espero que você me entenda. Memórias enchem minha cabeça, transbordam meu coração. Eu espero que você se lembre. Lembra daquele dia que nós deitamos juntos naquela sua colcha meio verde meio florida e cê me pediu em namoro? Lembra daquela vez que a gente sentou no sofá azul da minha casa pra comer brigadeiro e acabamos imundos e cheirando a chocolate? Lembra daquela noite que a gente deitou no tapete fofinho da sua sala e simplesmente esqueceu do mundo? Talvez, eu nunca seja capaz de esquecer desses dias.
          Talvez você chegue até aqui e se pergunte por que eu estou te escrevendo. Eu disse que me perdi, lembra? Eu não sei mais se comecei a me despedir ou pedir indiretamente pra você ficar. Então quero te pedir desculpas pela confusão. Eu não estou te pedindo pra ficar, pois, meu amor, você deveria saber, eu jamais interferiria em teu livre arbítrio de escolher com quem quer dividir a cama. Amar, para mim, é sobretudo, aceitar as decisões e repeitar o espaço do outro. Eu estou te desligando de mim. Deixo-te livre, a partir de hoje, pra dividir a cama com quem lhe convier. 
          Leia-me bem: sei que não tenho o direito de dar-te ou não permissão para fazer algo. Mais que isso, eu estou dizendo: eu (também) desisto (de você). Você desistiu de mim, e há um tempo eu escrevi para você algo como "Eu ainda estarei por você. Eu ainda estarei por nós." Eu não sei se você leu, mas eu queria dizer que eu aceito tua permissão pra me fazer desistir de você também. Pois eu não quero, e não mereço, um amor unilateral. Então sim, é uma carta de despedida.
          Só quem faz seu coração disparar e te faz querer dançar mesmo sem música, é capaz de roubar-lhe toda a paz quando decide ir embora. Eu procurei você, andei pelas ruas escuras e vazias esperando te encontrar encostado em alguma parede, procurando as palavras certas pra voltar até a minha casa e pedir desculpas e fazer daquele o nosso Dia do Fico. Eu esperei você. Arrumei-me na sexta, no sábado e no domingo. Fiquei menos arrumada durante a semana e as olheiras eram bem visíveis pois eu havia esquecido de passar maquiagem pra esconder. O tempo arrastou-se de forma dolorosa mas você não veio. Por que você não veio?
          Sabe os ingressos de cinema, os bilhetes, as conversas por papel e todos aqueles post-its que você deixou na minha vida? Sabe aqueles planos que a gente fez, os sonhos que sonhamos juntos, e todo aquele papo que "a gente vai casar, ter dois ou três filhos, um montão de cachorros, vai morar na Califórnia" e blá blá blá? Sabe todos os abraços, todo aquele perfume, todos os beijos e cheiros e todas as vezes que teu colo foi meu travesseiro e meu peito foi o teu? E todas aquelas juras, promessas e todas as vezes eu senti saudade de você? Sabe, eu não sei o que fazer com nada disso. 
          Já nem sei se você entendeu o que quis dizer, se entendeu o que eu pus nas entrelinhas, se não entendeu nada ou se simplesmente desistiu no segundo parágrafo. Desculpe pela confusão de sentimentos, eu só espero que você tenha entendido uma coisa... Fica bem. Até um dia.

domingo, 2 de março de 2014

Sobre a minha saudade

          Há dias amenos. Há dias que há saudade e dor, mas as lembranças conseguem se sobrepor a dor e eles se tornam toleráveis. Há dias ruins. Há dias terrivelmente doloridos e angustiantes. E há dias em que nada é capaz de parar meu choro. Hoje é um dia difícil. Dias difíceis são ainda mais difíceis sem você. Os dias em que eu não encontro teu abraço, você não sorri pra mim e eu não posso dizer que eu estava com saudade. Dias onde te procuro, mas não encontro em lugar nenhum além de dentro de mim. Esses são os dias mais pesados, e que exigem de mim uma força sobre-humana que eu nunca imaginei que tinha.
          Não há nada que eu possa fazer além de transformar minha dor, saudade e minhas lágrimas pesadas em palavras miúdas. E ainda não sou capaz de transpor a dor. Eu ainda estou aqui, debaixo das tuas asas imaginárias buscando algum consolo. Eu não me despeço pois a dor de te deixar ir é demais até pra mim, que sempre aguentei as porradas da vida. Ainda procuro a barra da tua saia pra me aquecer, e a beleza do teu sorriso pra me alegrar. Eu não te encontro, mas eu espero que você possa me ouvir. Eu ainda estou perto de você, pois eu a amo o suficiente pra aguentar a dor de não poder te tocar, te ouvir ou mesmo olhar pra você, e eu a amo o suficiente para nunca abandoná-la.
          Obrigada pela nossa eternidade.
          Eu te amo.

          Com amor,


domingo, 16 de fevereiro de 2014

Dois em um, um em um, um em dois

Ouça I Wanna Be Yours - Arctic Monkeys

          Você sabe que o mundo lá fora é melhor. Que me acompanhar no meu ritmo de coração desacelerado não é assim tão legal. Sabe que eu sou chata com as minhas manias, e que eu sou difícil de se conviver. Você sabe que eu amo tomar café de manha (e mais que isso, eu preciso pra acordar) mas você odeia. E você vai descobrir que eu sou uma má companhia pra lugares fechados e cheios e com música alta demais e com gente se esbarrando o tempo todo e com cheiro de cigarro misturado com álcool. Eu sou péssima pra festas, mas você sabe que eu enfrentaria muitas por você.
          Você vai perceber que eu tenho apego por livros e por ler o que ninguém mais gosta. E eu tenho uma alma mais velha que meu corpo. Você vai saber que chocolate não diminui minha cólica, mas me agrada saber que você aprendeu a fazer brigadeiro por minha causa. Você talvez aprenda a ouvir meus silêncios. Mas, principalmente, tem que aprender a lidar com as minhas explosões. Que são poucas, mas que destroem tudo o que alcançam. Você vai descobrir que eu não falo até me sentir cheia. E que eu sofro calada e sorrindo pra você e que durante o banho isso vira choro.
          Você tem que aprender que eu sempre irei te beijar com amor, às vezes pedindo carinho, às vezes querendo sexo. Às vezes os dois, às vezes nada além de você sendo eu e eu sendo você. Sendo um. Talvez você aprenda que ser só um é mais bacana, e que beijar várias meninas também é mais cool. Que ser dois em um é over, e então nós chegamos ao fim.
          Mas se, talvez, num dia qualquer, você descobrir tudo isso e ainda quiser ser só um comigo, eu estarei sentada na cama lendo um livro fedendo a mofo ou cheirando a novo, vai saber.
           Eu ainda estarei por você.
           Eu ainda estarei por nós.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Para você que é meu amor, com amor


          Eu não consigo tirar meus olhos de você. Estamos no meio do verão, e você está usando uma bermuda solta e uma camisa de basquete, como sempre. Sua barba por fazer roça no meu pescoço enquanto você me toma em um abraço inesperado e meio torto. Eu mal consigo me lembrar da minha vida antes de você. Tudo o que eu vivo hoje, e ao seu lado, se tornou grande demais e ocupa boa parte dos meu dias. E ainda assim, somos leves. Somos flocos de neve, tão delicados mas quando juntos, tão densos. Essa sou eu com você. Maior, talvez melhor, e sempre transbordante. Eu sem você sou grão de areia nos olhos de alguém, eu incomodo. Eu irrito, por que eu sem você não transbordo. Não que eu seja pouco sozinha, nem que eu seja menos, ou seja infeliz. Eu só prefiro ser ainda mais com você. Eu só prefiro ser feliz com você.
          Juntos somos flores na primavera; separados não passamos de folhas secas no outono. Juntos somos fogo; separados eu não incendeio e você não queima. Não funcionamos à distância, funcionamos sob o mesmo teto, no mesmo sofá e sobre mesma cama. Eu sou labareda, mas sem você sou apenas faísca.
          Eu gosto de você. Cada pedacinho seu atrai uma avalanche de mim. E eu gosto de você. E gosto das suas vindas constantes, mas nunca idas. Gosto da certeza da tua voz, e da fortaleza do teu abraço. O teu afago cálido me toma o peito. Não mais sei dos meus ais quando vejo você sorrindo para mim, nada mais lá fora importa.
          Ter amor é te ter, amor. 
          Eu adoro as linhas de expressão que aparecem em seu rosto quando você sorri. Eu adoro a sua risada, e adoro o jeito que você tomba a sua cabeça para trás quando algo te incomoda, ou mesmo quando estás cansado. Eu adoro até os teus silêncios, que antes me doíam tanto, mas hoje não. Aprendi que no teu silêncio cabe ainda a vontade de conversar comigo. Você não desliga, até que me chama a atenção e eu percebo que durante o teu silêncio eu pensava no quão bom é te ter aqui. 
          Olho para o céu e me deparo com a imensidão que me espia também. Eu sou pequena agora, mas não tenho medo. Olhar pro céu me lembra você. Seus olhos não são azuis como ele é, mas têm um castanho que brilha mais que a Sírius. Você é tão lindo quanto o céu. E o céu é imensidão, é infinito. Você é o meu céu, logo, o meu infinito. Você é meu ontem, meu anteontem, meu mês passado e retrasado, meu agosto favorito. Você é memória, e ao mesmo tempo é futuro.
         Você sabe que é tudo.
          Me apaixonei por você em junho, descobri em julho e assumi em agosto. Gradativamente, como quando pegamos no sono. As pálpebras caem lentamente, os olhos frouxos não aguentam o peso do dia e morremos momentaneamente. Mas eu não morri, ganhei um sopro de vida no momento em que você me olhou durante a aula de matemática. E eu sabia que era você. Não pela sua barba meio desregulada ou seu cheiro de homem num corpo de menino, e sim pela felicidade do teu sorrir para mim. Você estava sorrindo para mim. Novamente digo, você é o meu infinito particular.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Born to die


Ouça Born to die, de Lana Del Rey    
          Mais uma vez eu olho pra você e você não encontra o meu olhar. Como de praxe, você está longe. Eu te perdi. Em alguma curva nessa estrada você se manteve na pista enquanto eu capotei no acostamento, no abismo da nossa relação. Você jamais acreditou que um dia eu partiria. Finalmente você me olha, com olhos de reprovação e de quem duvida de mim. Nunca, nem por um só segundo, acreditou na mulher que teve ao seu lado. Teus olhos rasgam o véu da minha alma. Eu sempre estive nua, completamente despida para você. E tudo o que você fez foi me jogar um lençol para que eu me cobrisse. E o mais triste é saber que você não enxerga quem eu sou, quem eu sempre fui para e por você. Você não sabe, não entende e não vê, mas eu estou desistindo de você. Game over, baby.
          Estou desistindo de você, desistindo de lutar por quem nunca me ajudou a sarar um ferida sequer. Estive em batalhas, e perdi guerras por você. O que você fez foi passar os olhos por mim e me dar boa noite. As minhas noites foram um saco, graças a você. Enquanto você beija a minha boca, eu cuspo tudo o que fomos e todos os sonhos que um dia eu tive para nós. Despejo em você toda a imundice com a qual convivi durante esses meses de pseudo-relacionamento. Teu cheiro me enoja, tua voz irrita os meus ouvidos. Você ainda não sabe, mas eu estou indo embora.
          Eu sempre soube que nós nascemos para morrer, que nunca daríamos certo. Eu andei perdida, perdida nas incertezas do nosso caminho e eu vi tanta coisa fora do lugar... Tô indo embora, me depositando numa mala e me levando pra longe. Você fica, com a casa cheia de lembranças minhas. Fica com o cheiro doce do meu perfume, com as fotos e com todos os presentes. Fica com quem eu fui pra você, fica com a minha mais bonita lembrança que um dia, eu sei, que será sua mais doída e amarga recordação minha. Você sempre gostou do meu sorriso, como não pode perceber que eu quase não sorrio mais?
          Eu sei das suas manias, será que você sabe as minhas? Pela cara que você está fazendo enquanto eu arrumo a mala, eu acredito que não. Nós morremos antes mesmo de viver. Eu vou embora e você não pronuncia uma palavra sequer. Eu morro com você nessa sala hoje, pra renascer longe daqui. Eu quebro as xícaras e todas as louças que eu escolhi pra nós. Eu quebro você. Eu abandono você. Eu escolho a mim. Porque nós nascemos para morrer. Eu odeio você, porque você desperdiçou todas as chances que eu te dei. Você não viu, você nunca me viu! E eu odeio um dia ter acreditado que você era bom o bastante pra mim.
          Tô indo embora. Você não vai me pedir pra ficar. Você acredita que eu vou voltar amanhã ou daqui a dois dias. Abra um sorriso e me dê tchau. Finalmente você conseguiu o que queria. Matar nós dois. Eu sorrio enquanto você, mais uma vez, ignora a minha presença. Você sabe, no fundo, que é para sempre. Você vai descobrir que eu não costumo brincar; você vai descobrir que vai sentir a minha falta. Sim, você vai. E aí já vai ser tarde demais, baby. Game over.