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domingo, 30 de março de 2014

Será que você pode ir embora?

       
          Pus uns discos antigos pra tocar por que hoje eu decidi escrever sobre saudade. Sabe, faz um tempo que eu andei pensando na minha vida. Assim, no singular. Pensei em como eu mudei de uns dois anos pra cá. Meu cabelo ainda parece o mesmo, mas pra mim ele está completamente diferente. Eu que não tinha o hábito de usar batom passei a usar quase todos os dias. Meu perfume também mudou. Em três semanas, me dei conta de como eu sentia falta de mim. E não percebia. Quando passei a ter tempo só pra mim, me dei conta que deixei de me cuidar e de cultivar as flores do meu próprio jardim.
          O tempo voa diante dos nossos olhos e nem percebemos. Levantamos todos os dias pensando nas coisas que nós temos que fazer durante o dia, e já ficamos exaustos antes mesmo de colocar o pé na rua. Então, nesses dias meus, eu percebi que eu mudei demais e eu acho que isso é bom. Sei lá, né? Vai que é ruim? Sei não. Mas mesmo com essas dúvidas sobre se eu mudei pra melhor ou pior, eu vim mesmo foi pedir desculpas pra alguém que eu conheci esses dias.
          Num dia qualquer, quando você nem tá preparada pra conhecer alguém legal, um alguém legal chega e te dá um bom dia tão gostoso que seu dia fica bom mesmo. Numa hora qualquer você tá mexendo na sua bolsa, procurando alguma coisa que você tem certeza que esqueceu em casa, em outra, alguém tá perguntando se você curte Jason Mraz e te chamando de moça bonita. Assim, meio casual. Simples. Lembra que o tempo voa? Pois é. Você acaba conversando com alguém horas a fio e nem percebe. Você se encantou pelo sorriso dele. Ele se encantou pela mulher que você é. Aí tudo complica.
          Naquele dia que você veio me deixar aqui na porta de casa, e a gente se abraçou desajeitadamente e eu não sabia se te beijava ou te só te dava boa noite, eu percebi que não sei o que nós somos. Eu disse que a gente não poderia ser nada, você lembra? Você disse que seríamos o que eu quisesse, até mesmo nada, mas era pra eu continuar sorrindo pra você. As coisas são bonitas quando você tá por perto, mas eu não posso gostar da visão que você me mostra. Mas me dá um medo absurdo de sentir demais outra vez. Medo de deixar de ser atração e virar amor. Pode não, moço. Não tenho força pra isso. Eu te falei isso também, e eu ouvi você dizer que seria forte por nós dois. Diz isso não, moço. Permito não.
          Uma noite dessas eu chorei. Chorei por saber que eu não sou (agora) nem metade do que você merece. E você é bem mais do que eu mereço. E eu não permitiria que você vivesse um amor unilateral, por que moço, eu sei como dói. Chorei também por que o medo de amar outra vez domina meu peito. Por que o que eu conheço do amor é a parte mais doída. Vai ver eu ainda não sei amar, moço. 'Cê entende isso? Eu chorei por que eu te gosto mais a cada segundo, são frações pequenas de gostar mas que no final somam muito gostar e eu não quero gostar demais de você. Por favor, me desculpa.
          Sinto muito pelos que passaram por mim antes de você e deixaram tudo aqui uma bagunça. Eu ainda nem arrumei tudo, e aí você chegou me oferecendo ajuda. Eu limpo aqui, pode deixar. 'Cê disse assim. Enquanto eu tento esvaziar meu corpo das toxinas dos outros amores incompletos que eu vivi, você diz que vai ficar e vai esperar até eu ter condições de me preencher outra vez. Teu sorriso é tão bonito, e teu cheiro é tão acolhedor que eu fico sem graça de dizer que tô cansada demais e que não vai dar pra gente jantar juntos hoje. Mas é que não vai dar mesmo, ando sem fome. Desculpa, moço.
          Tenho medo de ser o certo na hora errada. Você disse um dia desses que eu sou, provavelmente, a mulher mais corajosa e confiante que você já conheceu. Tô com medo de te amar; tô te pedindo pra ir embora enquanto dá tempo de não gostar de você. Não fala essas coisas que destroem meu coração, que transformam-no em purpurina. Tô te pedindo pra conhecer alguém melhor que eu, que possa te dar o amor que eu não posso. Tô te desejando tanto mas eu não vou admitir isso até que você esteja a uns bons quilômetros de mim. Se cuida, viu? Vou sentir falta do teu beijo na testa, mas eu desejo que alguém lhe beije a boca com todo o amor que você merece. Não me odeie, moço. Eu te peço. Quem sabe um dia a gente se encontra, mais maduros e livres?Quem sabe... Fica bem, moço. Fica bem. 

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