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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Tic-tac

          Pela primeira vez nesses meses, eu não senti pena de mim mesma. Não sofri, ou acordei chorando, lembrando de um resto do sonho (às vezes pesadelo) que tive contigo na noite passada. Dormi exausta e não, desta vez, não tive tempo pra pensar em você. Ou para fazer planos, para sonhar com o dia que você vai tocar a campainha, dizendo que me quer de volta. Adormeci pra você, tic-tac, o tempo passou. A ampulheta marca que o tempo acabou querido, ela já havia se atrasado muito.
          Adormeci para esse amor e acordei para mim. Me olhei no espelho às nove e cinco da manhã de hoje, 7 de dezembro de 2012, a três dias do meu aniversário, e me senti viva. Feliz pelo que vi no espelho. Eu me aceito, me aceito de volta. Obrigada por ter me devolvido à vida. Fiquei longe de você esses últimos dez dias. Nos falamos tão pouco que parecemos dois estranhos, que jamais se viram, se amaram ou dormiram aninhados um no abraço do outro. É o tempo, tic-tac.
          Você sabe... Eu pensei em você todos esses dez dias, não houve um dia apenas em que eu não tenha lembrado de como você fica bem naquela sua camisa preta de gola V. Mas hoje, a partir das zero horas, eu não lembrei. Não precisei fugir das memórias, elas simplesmente não me encontraram. Não acharam nenhuma brecha para entrar no meu mundo. Portas e janelas trancadas, cortinas fechadas, e até as feridas parecem ter sarado. Não há vestígios das tuas idas e vindas em mim.
          Pela primeira vez, eu me enxerguei como tantas pessoas me dizem que eu sou. A mulher forte, que guarda sempre um sorriso no bolso para dar a alguém que precisa de consolo. A mulher que não é mãe, mas cuida de uma criança como se fosse. Ela é 13 anos mais nova, somos duas crianças que não conhecem um terço do mundo, mas eu posso cuidar de nós duas. A mulher (que é menina) que cuida da casa enquanto a mãe trabalha fora. A menina que, diferente do que a maioria pensa, não é uma princesa que vive em um castelo perfeito, mas que é feliz mesmo assim.
          Não tive pena de mim por estar sem você, e nem pena de você por estar sem mim. Não senti pena, nem desprezo. Apenas enxerguei aquilo que estava invisível diante dos meus olhos. Não há mais tempo para sofrer por você. Não há mais motivo pelos quais lutar. Não há mais pena. Por que não há mais tempo. Há amor, e sempre, sempre e sempre, haverá. Mas não há mais tempo, tic-tac. Não inverta mais a ampulheta, o tempo passou. Desta vez, de verdade. E deve ser por isso que você está tocando a campainha agora, mas meu bem, ignore a janela aberta e as luzes acesas, não há ninguém nesta casa disponível pra você.
          Tic-tac.

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