Páginas

domingo, 13 de dezembro de 2015

Eu escrevi um texto sobre sentir

         [Você pode ler este texto ao som de Purpose - Justin Bieber]

          Não faz mal sentir. Sentir-se só. Sentir dor. Sentir saudade. Sentir amor. Sentir raiva. Sentir-se vazio. O que faz mal é essa nossa mania de querer não-sentir-nada. De querer virar um punhado de robôs que vivem automaticamente, beijam automaticamente, e não amam, nem automaticamente, nem roboticamente ou qualquer outro mente que nossa mente seja capaz de criar. Senta aqui, vamos conversar sobre o que é sentir.
          Há um tempo venho me sentindo perdida no mundo. Como se o ontem e o hoje e o amanhã não fizessem sentido algum. Há um tempo tenho me limitado a não sentir nada, nem amor nem empatia pelas pessoas, ora porque elas não merecem, ora porque eu mereço não sentir nada. Porque eu mereço ser livre. Porque eu confundi liberdade com ausência de afeto. Porque quando eu conheci alguém legal, quis jogar. Quis brincar de esconde-esconde como uma criança de cinco anos. Porque eu aprendi que é assim que nós conquistamos as pessoas hoje em dia: brincando de quem se ausenta por mais tempo e desperta mais saudade.
          Dê-me sua mão e escute o que eu vou dizer. Não temos mais cinco anos, e não somos robôs para brincarmos com o coração alheio. Não precisamos esconder a saudade, o afeto e nem a raiva. Porque nós sentimos, e não há mal em sentir.
          Eu conheci alguém legal. Não sei mais se ele era legal porque era legal ou porque eu achei que poderia consertá-lo dos danos do mundo. O primeiro passo era demonstrar interesse, o segundo era demonstrar um pouco de desdém, do terceiro em diante eu deveria fazê-lo me amar. Eu me fiz presente, e logo após ausente, porque essas eram as regras do jogo. Segui direitinho as instruções da caixa. Eu não sei agora se deixei alguém legal passar por mim ou se fiz um grande bem em ter perdido esse jogo.
          Eu deveria conquistar o amor dele. Soletre comigo c-o-n-q-u-i-s-t-a-r. Eu deveria jogar para ter amor. Eu deveria ler o manuel de instruções, mas veja só, ele não tinha um. As ações não foram premeditadas, e, de repente, eu estava sobre solo irregular e desconhecido. Aí eu perdi. Perdi porque não soube o que fazer, porque na ânsia de não sentir, eu precisava ter tudo planejado, tudo sob controle. E, naquele momento, se havia alguém no comando do jogo, esse alguém não era eu. Eu quis jogar porque não poderia me apaixonar por ele, mas ele deveria se apaixonar por mim. Só pra eu ter a sensação que eu curei alguém dessa obsessão de não-sentir-nada. Porque no fundo, quem não sabia sentir era eu. Mas ora, o mundo não precisava saber disso.
          Agora entendo que não há mal em sentir. E mesmo sem saber ainda o que eu faço e devo fazer no mundo, me permito viver um dia de cada vez, e sentir, pausadamente, tudo o que vier pela frente. E não consigo curar ninguém da obsessão do não-sentir-nada, hoje eu só quero ser curada. Sem virar um robô. Eu só quero não brincar mais de não sentir nada. Enquanto eu tiver que decifrar um manual para ser amada, meu bem, eu vou me sentir perdida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário