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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Você é um mar


Ouça Bem mais que a mim, Maria Gadú

          Hoje eu tive medo. Sentei na cama, acordando de um pesadelo com você, e pus imediatamente a mão sobre o coração como quem pedisse pra ele se acalmar. Mas ele não acalmou, continuou batendo descompassado o dia inteiro. E o dia inteiro eu tive medo. Pensei em te ligar, mas me dei conta que perdi o direito de querer saber da tua vida. Perdi o direito até de sonhar com você, porque sempre que isso acontece, sinto meu coração perder um pequeno pedaço e já foram muitos os pedaços que você me arrancou.
          Você chegou depois das minhas promessas de nunca mais abrir o coração pra ninguém. Depois de ter despachado uma porção de caras legais porque eu pus defeito em todos eles, porque nenhum servia pra mim. E aí apareceu você. Que não tinha o meu tamanho. Que não estava disponível. Que tinha uma porção de defeitos que eu passei a adorar como eu adoro qualquer parte sua. Chegou você e eu me virei nos trinta pra caber em você, pra bastar em você. Cortei partes minhas porque talvez você pudesse não gostar, porque eu precisava ser o seu número.
          Hoje eu chorei o que não havia chorado há dias, o que vinha tentando guardar pra mim porque eu sou forte e pessoas fortes não desabam só porque um amor não deu certo. Mas o amor era você, e eu chorei. Eu tentei entender em qual ponto ficou impossível segurar a barra, quando foi que eu fui obrigada a renunciar. Levantei a bandeira branca, pedi paz pro coração que passou a não ter mais nem um segundo de sossego desde que você chegou. Eu queria poder dizer que foi um desassossego gostoso, porque o amor tem essa mania de tirar a gente do eixo, mudar a órbita da nossa vida. Eu quis mais que tudo que tivesse sido assim. Mas não foi, e foi por isso que eu chorei.
          Hoje eu senti bater o medo que senti quando descobri que gostava de você. Pareceu uma boa ideia pra você? Eu não sei, nunca te perguntei. Senti medo de me perder, medo de não saber voltar pra minha solidão cômoda em não gostar de ninguém. Porque, no fundo, todo mundo sabe que é melhor um coração vazio, que não espera, que não se machuca, que não se dói por ausências, que se basta.
         Mas a verdade é que o medo que bateu hoje me fez pensar se eu bastava antes de você. Se era realmente melhor não sentir nada a sentir tudo isso que você me faz sentir. E eu não sei. E foi por isso que eu chorei sentada na cama com a mão sobre o coração. Porque eu não lembro de como era a minha vida antes de você. Antes da esperança, antes da luz, antes do rabisco de paraíso que você me ofereceu quando chegou.
          Se você fosse um mar, eu mergulharia fundo. Tão fundo que provavelmente teria me afogado. Mas você não é mar, apesar de eu achar que vou me afogar. Você também acha isso?

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