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sábado, 6 de junho de 2015

Carta extraviada n° 1

         
          Agora são dez horas e quarenta e três minutos de uma noite qualquer. Agora, eu preferia estar num lugar qualquer onde eu pudesse, e só tivesse, que olhar pra você. E então eu não precisaria dizer nenhuma palavra pois não haveria nada que eu pudesse dizer diante de tudo - desde as pequeninices aos terremotos - que você me faz sentir. Você pode estar sorrindo agora, ou olhando cada palavrinha com uma expressão estranha de quem não sabe o porquê de eu estar escrevendo pra você. É simples. Quando alguém me faz sentir tantas coisas bonitas, me dá vontade de retribuir com coisas mais bonitas ainda. E mesmo que eu te escreva uma carta por dia, durante meses ou até anos, ainda seria tudo muito pequeno perto da luz que tua alma trouxe pra minha poesia.
          Eu queria te ver sorrir. Dedilhar tuas costas nuas com meus dedos pequenos e minhas unhas pintadas de vermelho. Mas eu queria te ver sorrir. Beijar teu sorriso quando você menos esperasse, só pra ter a sensação dos teus lábios felizes sob os meus. Só pra ver nos teus olhos o reflexo do meu cabelo, pra ver se eu combino com tua íris ou se eu só imagino demais.
          Mas eu não sei te dizer quando foi que eu suspirei pela primeira vez por você. Mas depois da primeira, todas as vezes que suspirei tive a sensação de estar em um mar calmo, num dia bonito, com o coração batendo forte sob a pele. Você me faz sentir a paz dos dias de ventania e furacão. Você é paz no caos. É recomeço.
          Pois foi você, e não qualquer outro, que me fez sentir o coração querer dançar de novo. Foi você, e não o menino que me beijou na última festa que eu fui, que me fez pedir calma pra entender o rebuliço dentro da minha cabeça. Não sei o que sinto, mas sei que não sinto pouco. Mas eu queria te escrever algo tão bonito quanto a sensação de lar que tenho quando penso em ti. O tato que procura teu corpo no escuro de um quarto onde você não está. O cheiro de pele tua que fica em mim depois de um abraço que você não me deu.
         Eu, que nunca precisei de ninguém pra me sentir em casa, de repente quis tanto que você fosse a minha. Pra eu morar onde teu eu habita, pra dividir o espaço com a tua respiração. Mas se você me perguntar se eu sei o que eu sinto por você, eu apenas direi que não. Mas eu sei que já vale muito a pena. Você vale a pena.

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