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domingo, 3 de maio de 2015

Carta à Ana

*Ouça Fidelity, Jasmine Thompson

          Ana, enxuga as lágrimas. Ainda é cedo, e eu sei que o domingo chuvoso não ajuda, mas você precisa ouvir o que eu tenho pra te dizer.

          Ana, olha ao redor. Existem infinitas coisas bonitas perto de você. Existe o parque, o carrinho de churros, flores coloridas plantadas pela sua vizinha de quase 80 anos. A vida é mais do que você enxerga agora, eu sei. Você sabe também, mas eu também sei que dói olhar pra tanta luz quando você se sente escuridão. Ana, não chora tanto. Seus olhos são tão bonitos pra você inundá-los de água salgada. Olha pro céu, olha pras nuvens, olha pra mim. Nenhum mar pode te naufragar se você não quiser. Não queira, por favor.

          Você pensa que não vai passar, mas passa. Não, Ana, o amor não é um erro. Não é uma escolha ruim. Eu sei que você queria que fosse mais fácil, eu também queria, Ana. Mas a gente não tem controle algum sobre a vida. E o amor chega pros desavisados, desprevenidos, desligados. Chega quando você abre a porta pra ver as flores coloridas do jardim da sua vizinha. Ele não pede licença, Ana. Você não poderia evitar.

          Hoje eu pus o meu melhor vestido pra vir falar com você, porque você é importante, Ana. Eu não poderia fazer uma desfeita. Eu li num livro que desistir também é um ato de coragem, você me entende? Ir embora às vezes dói mais que ficar. E quando ficar dói mais que ir? Você precisa ir, Ana. Antes que você se afogue no seu próprio amor. Você é intensa, eu sei. Intensa demais pra conviver de meias verdades, meias vontades, meio amor. Quando você sorri, Ana, eu sei que alguém no mundo pode sentir a luz que você emana. Eu sinto daqui de onde estou que sua vida está esvaindo, indo embora de você. Cadê sua luz, Ana? Antes ela brilhava em você. Nos teus olhos, nos gestos, nas unhas de pé. Eu só consigo ver suas lágrimas daqui. Não chore tanto, Ana. Dói em mim.

          Ana, respira fundo. Estou chorando com você. Eu sei o que é se sentir dor quando todos te olham sorrindo, eles acham que você está bem. Mas eu sei que não. Ele tem os olhos lindos, e eles combinam com a boca bem delineada que parece ter sido a obra mais bonita criada pelos dedos de Deus. Mas, Ana, olha pro buraco em seu peito. Ame-se, Ana. Agora, antes que seja tarde, antes que eu não possa te salvar. Tem algo errado com um amor que precisa ser cobrado. A Mariana sabe, a Lúcia e a Raquel também. Você sabe agora. Eu sei também, porque eu sou você, Ana. Todas as mulheres do mundo já foram você. Não desiste. Põe o teu melhor vestido e vai ao parque, Ana. A vida segue. Eu te dou a minha mão se você achar que vai cair. Eu te seguro. Eu sou você, Ana.

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