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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sobre ser só

          Leia ao som (maravilhoso) de Home - Michael Bublé

          Às vezes, quando chove, eu fico sentada em frente a janela do meu quarto só pra ver como as gotas caem bem no vidro embaçado. São muitas, mas todas são solitárias. Sobre ser só, eu sei. Assim como as gotas solitárias molham a minha janela, há lágrimas solitárias molhando rostos que eu desconheço nesse mundo de meu Deus. Lágrimas de saudade, mas, principalmente, lágrimas de solidão. Lágrimas de quem não sabe viver sozinho, de quem não aguenta sua própria companhia por uma hora sequer e busca incessantemente uma companhia na rua só pra não ter que ser só. Somos só, por natureza. E quase ninguém percebeu.

          Nascemos sozinhos, mas nos acostumamos tanto com a companhia materna que é difícil dormir sozinho quando a escuridão abraça nossos corpos. Será que dá tempo de correr pra cama da mamãe antes do próximo trovão? A verdade é que não dá. Não podemos fugir da solidão, porque ela, inevitavelmente, vive do nosso lado sendo nossa companhia sem que percebamos. Porque ela disfarça-se e entra pela brecha da nossa porta e dorme do nosso lado na cama. Não adianta fugir da sua solidão, ela mora exatamente onde você não quer que ela esteja: em seu próprio coração.

          Ser só não é ser triste, ficar só não é estar abandonado. Vez em quando, faz bem ficar só. Calar um pouco e ouvir algum som que antes passara despercebido. Ser só é estar pronto para aproveitar uma companhia quando ela tocar a campainha numa noite qualquer. Saber ser só é saber ouvir o outro, é saber lidar com medos que antes lhe faziam tremer o corpo. Nenhum medo é maior que o medo da solidão. Vivemos a vida sempre em busca de alguém que nos complete, que seja nossa metade para que nunca tenhamos que ser só. E não percebemos que temos é que ser inteiros, para que quando nossa melhor companhia chegar possamos transbordar juntos. Sem medos, e sem solidão.

          Hoje eu não tive nenhum abraço amigo, então eu mesma me abracei. Calei minha voz e pensei bastante sobre tudo. Sobre minha família e até sobre a bolsa de Nova York. Isso tudo porque eu aceitei a minha solidão nesta manhã de outubro. Porque eu não decidi visitar algum conhecido só para não ter que ficar só. Quem respeita sua solidão é quem sabe saborear a presença de alguém em sua vida. Porque sabemos que, às vezes, ser só dói mas o que dói mesmo é não sabemos lidar com isso. Nem tudo do que precisamos está com o outro, às vezes está dentro de nós e nem percebemos. Obrigada por ter vindo me visitar hoje, solidão.

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